quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Sambaceso (pro Spinoza)

O samba chegou pra balançar
Mexer nas idéias com emoção
Suar as loucuras do amor e delirar
Seduzir com as cores da canção

Vem secar a tristeza de um poeta
Molhar com alegria o coração
Pra se lançar inteiro em sua meta
Com firmeza ele toma a decisão

E sambando assim vai acendendo
O fogo do encontro no corpo do prazer
Novo tempo de paz que tá nascendo
Embalando o desejo dançante de viver

sábado, 13 de setembro de 2008

No Tempo da Delicadeza

Vida sabe saborear o amor
Colher mel e pétala de sua flor
Delicaldos que alimentam sonhos
Tudo que alegra os tristonhos

O que o corpo quer
Quando dá prazer
É criar o amado
E cuidar do sofrido

Pois no meio do caminho
Que se percorre sozinho
Quem não colhe flores
Que receba dos amores
Quando mais adiante
Encontra amigos e amante

Ivan Maia

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

O amor segundo Stendhal - Fragmentos

"Procuro interpretar essa paixão na qual todos os desenvolvimentos sinceros têm um caráter de beleza...
Enquanto o amor-paixão nos arrebata acima de todos os nossos interesses, o amor-prazer sabe sempre adaptar-se a eles...
seja qual for o gênero de amor a que se devam os prazeres, estes são ardentes e sua lembrança sedutora, desde que exista exaltação da alma; e nessa paixão ao contrário da maioria das outras, a recordação do que se perdeu parece estar sempre acima do que se pode esperar do futuro...
O prazer físico, existindo na natureza, é de todos conhecido mas conserva apenas uma posição subalterna aos olhos das almas ternas e apaixonadas...
Eis o que se passa na alma: 1º a admiração 2º dizemos: que prazer dar-lhe beijos ou recebê-los, etc! 3º a esperança. Estudam-se as perfeições; é nesse momento que a mulher deveria entregar-se, para o maior prazer físico possível. Mesmo entre as mulheres mais discretas, os olhos brilham no momento da esperança; a paixão é tão forte, o prazer tão ardente, que se trai por sinais inequívocos. 4º nasce o amor. Amar é sentir prazer em ver, tocar, sentir com todos os sentidos, tão perto quanto possível, a criatura amada e que nos ama. 5º começa a primeira cristalização. Apraz-nos adornar com mil perfeições a mulher de cujo amor estamos seguros; com infinito deleite esmiuçamos toda nossa felicidade...
O que chamo cristalização, é a operação do espírito que, a cada circunstância, descobre no objeto amado novas perfeições...
Numa palavra, basta pensar numa perfeição para vê-la na criatura que se ama.
Esse fenômeno, a que chamo cristalização, provem da natureza, que nos ordena o prazer e nos impele o sangue ao cérebro; do sentimento de que os prazeres aumantam com as perfeições do objeto amado, e da idéia - "ela me pertence"...
Um homem apaixonado vê na criatura amada todas as perfeições; a atenção, contudo, pode ainda distrair-se, pois a alma se cansa de tudo que é uniforme, até da felicidade perfeita. eis o que sobrevem para prender a atenção: 6º nasce a dúvida...
O amante chega duvidar da felicidade que a si mesmo prometera e examina com severidade as razões da esperança que julgara entrever. quer atirar-se outros prazeres da vida: encontra-os aniquilados. Assalta-o o temor de uma terrível desgraça, e com isso cresce a atenção. 7º segunda cristalização.
Aí nasce a segunda cristalização que tem por diamantes as confirmações desta idéia: ela ama-me.
A cada quarto de hora da noite que se seguiu ao nascimento das dúvidas, e depois de um momento de terrível desventura, o amante diz consigo mesmo: "Sim, ela ama-me" e a cristalização se engenha em descobrir novos encantos; depois a dúvida de olho desvairado dele se apodera e o mantém em sobresalto. Seu peito esquece-se derespirar e ele diz consigo mesmo: "Mas será que ela me ama"? Entre essas alternativas deliciosas e dilacerantes, o pobre amante sente vivamente: "Dar-me-á prazeres que só ela no mundo me poderia dar". É a evidência desta verdade, é este caminho à beira extrema de um terrível precipício, quando, com a outra mão, já se toca a felicidade perfeita, o que empresta à segunda cristalização uma superioridade maior que a da primeira...
Basta um pequenino grau de esperança para causar o nascimento do amor...
Pode a esperança desaparecer sem matar o amor. Se o amante foi infeliz, se tem caráter delicado e pensativo, se desespera das demais mulheres, se tem uma admiração ardente por aquela de que se trata, nenhum prazer habitual poderá distraí-lo da segunda cristalização...
O que assegura a duração do amor é a segunda cristalização, durante a qual se vê a todo instante que se trata de ser amado ou de morrer. De que maneira, depois dessa convicção de todos os minutos, transformada em habito por vários meses de paixão, poder somente suportar o pensamento de deixar de amar?...
O homem não é livre de deixar o que lhe proporcione mais prazer que todas as outras ações possíveis. O amor é como a febre, nasce e se extingue sem que a vontade tenha nisso a menor parte...
E não podemos gabar-nos das belas qualidades do que amamos senão como de um acaso feliz...
A cristalização quase nunca cessa no amor. Eis a sua história: quando não se está bem com o que se ama, faz-se a cristalização de solução imaginária. Só pela imaginação podeis estar certo de que a perfeição existe na mulher que amais...
Se sois abandonado, a cristalização recomeça: e cada ato de admiração, a visão de cada felicidade que ela vos pode conceder e na qual não mais pensáveis termina por uma reflexão dilacerante: "Essa felicidade tão encantadora, nunca mais a verei! e é por minha culpa que a perco!"Pois se procurardes a felicidade em sensações de outro gênero, o vosso coração recusa-se a senti-las...
O ódio também tem a sua cristalização; desde que haja possibilidade de vingança, recomeça-se a odiar...
As mulheres se prendem pelos favores. Como dezenove vigésimos de seus devaneios habituais são relativos ao amor, após a intimidade esses devaneios se agrupam em torno de um só objeto...
esse trabalho não existe entre os homens; em consequencia, a imaginação das mulheres pormenoriza à vontade momentos tão deliciosos...
A mulher que, antes da intimidade, estava segura que seu amante era um homem acima do vulgar, logo que acredita não ter mais nada a lhe recusar, treme que ele não tenha procurado senão colocar uma mulher a mais em sua lista. Somente então aparece a segunda cristalização, muito mais forte porque acompanhada pelo temor. A mulher acredita ter passado de rainha a escrava. Esse estado de alma e de espírito é estimulado pelo delírio nervoso, que faz nascer prazeres tanto mais sensíveis quanto mais raros são...
Todas as vezes que ela encontrar o amante gozará, não do que ele é na verdade, mas da imagem deliciosa que tiver criado...
em amor não se goza senão da ilusão que se cria...
Ora, uma alma delicada já se conhece aos vinte e oito anos e sabe que, se ainda existe felicidade na vida, é ao amor que é preciso pedi-la. Dessa forma, nasce nesse pobre coração agitado, uma luta terrível entre o amor e a desconfiança...
A maioria dos homens solicita uma prova de amor que eles julgam capaz de dissipar todas as dúvidas; as mulheres não são suficientemente felizes para que possam encontrar uma tal prova, e existe essa desgraça na vida: o que faz a segurança e a felicidade de um dos amantes faz o perigo e quase a humilhação do outro...
Basta que se tenha a idéia da perfeição para descobri-la na criatura amada...
Deve-se ter cuidado de não proporcionar facilidades à esperança, antes de se estar seguro de que existe admiração...
No amor, nossa vaidade desdenha uma vitória muito fácil...
A beleza que descobrimos é pois uma nova aptidão para o prazer, e os prazeres variam tanto quanto os indivíduos..,
A cristalização da amante de um homem, ou sua beleza, não é outra coisa senão a coleção de todas as satisfações, de todos os desejos que ele pode conceber sucessivamente para com ela.